quinta-feira, setembro 19, 2024

Jorge de Angélica teve atendimentos negados e demora na regulação, afirmam amigos e familiares

A comunidade feirense foi pega de surpresa na manhã desta terça-feira (31) com a notícia da morte do cantor e compositor Jorge de Angélica.

O artista faleceu na noite de ontem (30) em decorrência de problemas de saúde. O corpo que está sendo velado no Centro de Velórios Gilson Macedo, bairro da Kalilândia, será sepultado às 15h no Cemitério Jardim das Flores, na BR-116 Norte.

Antes de ter o quadro de saúde agravado, o artista chegou a buscar atendimentos, mas foram negados em algumas unidades de Feira de Santana.

A informação foi confirmada pelo vereador Petrônio Lima (Republicanos), que acompanhou Jorge de Angélica no domingo (29).

Petrônio Lima
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Jorge me ligou no domingo ainda pela manhã, era por volta de 8h, e me pediu que eu fosse até a residência dele, para dar um suporte, um socorro e levá-lo em uma unidade de saúde. Ele estava com dificuldade para respirar no momento que cheguei, o abdômen estava um pouco inchado, e o levamos na UPA do Clériston. No momento que chegamos lá, informaram que não tinha clínico, apenas ortopedia, que não era o caso dele. Então fomos até a UPA da Queimadinha, demos entrada, foi atendido, mas depois o médico me chamou e informou que para o caso dele, não tinha condições de ficar internado ali, precisaria de uma regulação, iria perder tempo, e que a gente pudesse levar ele para o pronto socorro do Clériston, já que era caso de urgência, então eu imagino que o Clériston tinha o dever de atender o paciente”, relatou.

Ao Acorda Cidade, o vereador informou que ao chegar ao Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), Jorge foi impedido de entrar, pois não tinha regulação.

“Levamos ele para o Clériston, assim que chegamos na emergência, eles fizeram um certo atendimento, mas nem pegaram a documentação dele, não fizeram ficha, nem nada. A pessoa que nos atendeu, disse que não teria condições dele dar entrada lá, pois não tinha regulação, mas o caso dele era de urgência, ele chegou com dificuldades para respirar, tanto que quando estávamos na UPA da Queimadinha, o médico não colocou o soro, pois ele poderia estar com retenção de líquido e iria piorar a situação dele. Então como o Clériston não atendeu, nós voltamos para a UPA do Clériston, onde já tinha um clínico para atender, mas ainda era preciso da regulação para ele ser transferido, já que a UPA do Clériston não tinha o suporte necessário. Ontem que conseguiu uma regulação para Salvador, mas dependia de uma ambulância, mas já chegou tarde, Jorge veio a óbito”, disse.

Segundo o vereador, Jorge de Angélica foi mais uma vítima da regulação estadual.

“O hospital foi omisso ao socorro, porque sabiam que o quadro dele era grave, até nós, que não somos médicos, estávamos percebendo que a situação dele não era para UPA. Infelizmente ele é mais uma vítima da regulação, não só pela questão de Jorge, mas de tantas pessoas que já perderam a vida por falta de socorro. A saúde do nosso país pede socorro, somente as famílias sabem da dor que é perder alguém. Acredito que o hospital poderia fazer um exame, uma tomografia, algo que realmente tivesse o diagnóstico mais preciso, mais rápido, e sabemos que na UPA, não tem estrutura para isso”, concluiu.

Jôh Ras, filha de Jorge de Angélica, contou ao Acorda Cidade os últimos momentos que teve com o pai antes dele falecer.

Jôh Ras
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Ele tinha o pedido de regulação desde o dia anterior, era uma regulação para Salvador, mas não levaram. Esta demora ocasionou que o líquido que ele tinha na barriga, foi para o pulmão e infelizmente ele morreu nos meus braços. Ele ficou incialmente na sala vermelha, depois transferiram para uma outra sala, já não era mais a vermelha, uma de observação, ele ainda estava conversando comigo, mas devido esta demora na regulação, a ambulância que não chegou a tempo, ele faleceu”, disse.

Segundo Jôh Ras, Jorge de Angélica estava com problemas no fígado.

“Ele estava com um problema no fígado, que tinha diminuído de tamanho, nisso ocasionou uma bactéria, acredito que tenha atingido os rins, ele ficou com este líquido na barriga, e passou para o pulmão”, concluiu.

A professora Eli Pedreira, esposa do cantor Gilsam que fazia parceria com Jorge de Angélica, junto com o cantor Dionorina, lamentou a perda do amigo Jorge e relatou ao Acorda Cidade que ao mesmo tempo que sente tristeza, sente indignação pelo fato dele não ter tido o atendimento devido no tempo em que precisava.

Foto: Iasmim Santos/Acorda Cidade

“No domingo pela manhã eu soube que ele estava procurando o atendimento na UPA do Clériston com a interferência de um vereador. Ele tinha o pedido de regulação para Salvador para retirar esse líquido do abdômen e infelizmente a ambulância não chegou a tempo. Até ontem a tarde ele estava em Feira de Santana e não tinha passado pelo atendimento, a partir disso fizemos uma rede de solidariedade para que o socorro chegasse a até ele para que ele tivesse o conforto. Umas três horas depois ele não resistiu, estava muito debilitado. No momento em que a ambulância chegou, Jôh Ras estava dando banho nele, ai Jorge passou mal, teve uma parada cardíaca. Dionorina foi a ultima pessoa a falar com ele, por volta das 20h e ele estava até otimista. Estamos aqui com o coração despedaçado com muita tristeza e indignação”, acrescentou.

O que diz a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia

Diferentemente do que ocorre nas unidades municipais há meses, a UPA Estadual em Feira de Santana acolhe todos os pacientes, sem qualquer restrição. Desta forma, não procede a informação de que teria sido recusado atendimento a Jorge Rodrigues na unidade. Afirmamos que ele teve toda a assistência necessária, tendo atendimento imediato na UPA e sendo assegurado um leito em uma unidade de maior complexidade. Por um infortúnio, um mal estar súbito ocasionou o falecimento durante o processo de transferência. Destacamos que não havia nenhuma restrição de atendimento na UPA e que a equipe de assistência estava completa no momento em que o paciente deu entrada no serviço.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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