A área sob alertas de desmatamento na Amazônia aumentou 91% em maio, atingindo 960 km², de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O número é o segundo pior da série histórica para o mês, atrás apenas de maio de 2021 (1.390 km²).
Na visão do secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, os números mostram que a floresta tropical está sofrendo impacto “muito grande” da mudança climática: “os dados infelizmente começam a aparecer agora”, afirma o secretário.
De acordo Capobianco, a proporção de desmatamento em vegetação nativa atingida por incêndios aumentou de 10% (em 2023) para 23,7% (em 2025).
“(Historicamente) o crescimento do desmatamento no mês de maio tinha um componente de floresta queimada e colapsada muito baixa. A partir de 2023, com o agravamento dos incêndios, hoje é de 51%. Ou seja, a perda de floresta em maio de 2025, se deu em maior quantidade por incêndio, mudando uma trajetória histórica”, afirmou Capobianco.
Tendência de aumento
O aumento nos alertas de desmatamento acende um sinal de alerta para o índice oficial de desmatamento de 2025, que será calculado com base no período de agosto de 2024 a julho deste ano. O número consolidado será divulgado no Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes).
Nos últimos dez meses, o acumulado já aponta crescimento de 9,7% em relação ao mesmo intervalo do ano anterior: foram 3.502 km², contra 3.191 km².
A tendência de alta tem sido contínua. Em abril, o sistema Deter já havia registrado crescimento de 55% nos alertas. O Deter emite sinais diários para apoiar a fiscalização, enquanto a taxa oficial é medida pelo Prodes, também do Inpe, com imagens mais precisas.
Alta expressiva em Mato Grosso
Entre os estados, o maior crescimento foi registrado em Mato Grosso, com 237% de alta (de 186 km² para 627 km²). A prática conhecida como “correntão”, usada para limpar grandes áreas com rapidez, é um dos fatores associados ao avanço do desmatamento no estado.
Cerrado tem redução
No Cerrado, o ritmo do desmatamento caiu em maio: foram 885 km², uma redução de 15% em relação a maio de 2024. No acumulado de agosto a maio, o bioma registra queda de 22% (de 5.908 km² para 4.583 km²).
No Amazonas, o desmatamento subiu 22% (de 117 km² para 143 km²), enquanto no Pará houve variação de 5% (de 138 km² para 145 km²). Em abril, o Ibama embargou mais de 70 mil hectares em 5 mil propriedades na Amazônia – a maior operação remota já realizada pelo órgão.
Ações e desafios
Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, informou que 9 mil propriedades foram notificadas por relação com incêndios. Disse ainda que o órgão aplicou R$ 3 bilhões em multas e reforçou a fiscalização com mais helicópteros e viaturas. Para o combate ao fogo, o governo prevê a maior estrutura da história, com ampliação das equipes e repasse de R$ 405 milhões aos estados da Amazônia Legal.
Capobianco também citou a aprovação da política nacional de manejo integrado do fogo, que envolve municípios, estados, União e setor privado. Dos 81 municípios críticos, 70 já aderiram ao plano.
Licenciamento e impactos indiretos
Durante a coletiva, o Capobianco fez críticas ao projeto de lei que tramita no Congresso e retira a exigência de avaliação de impactos indiretos no processo de licenciamento ambiental.
“A exclusão dos impactos indiretos, como o risco de incêndios em áreas de ocupação irregular, falseia a realidade. O impacto continua existindo, mas sem exigência de mitigação. É grave”, afirmou Capobianco.
Por Redação g1 — Foto: Polícia Federal/Divulgação