O reservatório da Barragem de Ceraíma, em Guanambi, está fechando 2025 com o menor volume de água armazenada para o fim de dezembro desde 2012, ano marcado por uma das fases mais críticas da estiagem no semiárido baiano.
Mesmo com episódios de chuva em novembro e dezembro, a recarga não foi suficiente para reverter a trajetória de queda do nível observada ao longo do ano.
De acordo com dados informados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o reservatório soma 15,5 milhões de metros cúbicos (m³), o que representa 30,4% da capacidade total de 51,1 milhões de m³. O volume atual é pouco mais da metade do registrado no fim de 2024, quando o reservatório armazenava 29,1 milhões de m³.
No Centro de Guanambi, à jusante da barragem, o volume de chuvas registrado pelo pluviômetro da Agência Sertão desde outubro foi de 228 milímetros (mm), sendo 17 mm em outubro, 100 mm em novembro e 111 mm em dezembro até este domingo, 28 de dezembro.
A Barragem de Ceraíma foi concluída na década de 1960 e é operada pela Codevasf, em um sistema historicamente relevante para o abastecimento urbano da Região e para a irrigação no entorno no perímetro irrigado.
Seca de 2012
Em 2012, durante a seca que atingiu o Nordeste e levou centenas de municípios a decretarem situação de emergência, o reservatório de Ceraíma praticamente secou. Estudos sobre o período registram o episódio como um dos mais severos das últimas décadas na região.
Naquele ano, a barragem chegou a ficar com menos de 0,5% do volume em meados de novembro e, com as chuvas das últimas semanas de 2012, encerrou dezembro com cerca de 2,1 milhões de m³ (4%). Em 2013, o nível voltou a cair para a casa de 1%, antes de apresentar recuperação mais consistente, alcançando 24,4 milhões de m³ (46%) no fim de dezembro.
O período foi de impacto direto na rotina da cidade e na produção rural. A irrigação no Perímetro Irrigado de Ceraíma foi suspensa, e o sistema de distribuição de água ficou inutilizado após a desativação das atividades. O abastecimento humano também ficou comprometido, já que, naquele momento, Ceraíma era o principal manancial para Guanambi.
Foi nesse contexto que a Adutora do Algodão ganhou centralidade no abastecimento regional. O sistema capta água no Rio São Francisco, na região de Malhada, e passou a atender Guanambi e municípios vizinhos, reduzindo a dependência do reservatório local. Em novembro de 2012, a chegada da água da adutora colocou fim ao racionamento que já durava dois anos em Guanambi.
Irrigantes acompanham nível com preocupação
Após os anos mais críticos da seca, Ceraíma voltou a registrar volumes elevados e ficou próxima da capacidade máxima em diferentes momentos entre 2016 e 2021. Em 2022, a barragem voltou a sangrar após cerca de 30 anos, repetindo um marco histórico que não ocorria desde 1992, período associado a uma grande cheia e enchentes registradas no município.
A fase atual, de baixa para o fim de dezembro, reacende a preocupação de produtores que dependem da água para manter atividades agrícolas, com destaque para culturas permanentes da fruticultura. A perspectiva de um novo colapso preocupa especialmente pela possibilidade de perda de lavouras perenes e de prejuízos acumulados em uma área em que o calendário produtivo depende de regularidade hídrica.
O Perímetro Irrigado de Ceraíma é o principal polo de produção agrícola irrigada do entorno de Guanambi. O projeto existe desde a década de 1970 e passou por reestruturação e modernização inaugurada em 2019, com mudança de infraestrutura para elevar a eficiência do uso da água.
Poço do Magro também perde volume no início do período chuvoso
Outro reservatório sob responsabilidade da Codevasf em Guanambi, a Barragem do Poço do Magro, também não conseguiu recuperar volume neste começo de estação chuvosa. O armazenamento está em 19,9 milhões de m³, o equivalente a quase 54% da capacidade. No fim de 2024, no mesmo período, eram 29,7 milhões de m³ (80,2%).
A Barragem do Poço do Magro foi construída para reforçar a segurança hídrica do município, com capacidade de cerca de 37 milhões de m³, e sua água é usada para abastecer comunidades do entorno e para usos múltiplos, incluindo a construção civil.
Previsão aponta chuva abaixo da média e calor acima do normal no verão
A tendência climática para os próximos meses indica cenário menos favorável para recarga dos reservatórios. No Prognóstico Climático de Verão 2025/2026, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta predomínio de chuva abaixo da média em grande parte do Nordeste, com destaque para a Bahia, e temperaturas acima da média na região.
Para Guanambi e entorno, a expectativa mais imediata é de retorno das chuvas nos últimos dias de 2025 e na primeira semana de janeiro. As projeções de curto prazo citadas para as próximas duas semanas indicam acumulados entre 40 e 80 milímetros, com a esperança de que as precipitações se concentrem nas cabeceiras e nos riachos que alimentam os reservatórios.
Fonte: Agência Sertão / Foto: Reprodução | Prefeitura de Guanambi
















