FOLHAPRESS – Há 40 anos, a revista Science publicava a descoberta de um vírus. Tratava-se de um agente infeccioso encontrado nos gânglios linfáticos de um paciente atendido no hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris, com sinais e sintomas frequentemente associados à Aids.
O artigo era encabeçado pelos pesquisadores franceses Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi, premiados mais tarde com o Nobel de Medicina pela revelação, e assinado por mais dez cientistas.
No texto, o grupo afirmava que o novo vírus, batizado em 1986 de HIV (vírus da imunodeficiência humana), poderia estar envolvido no desenvolvimento da síndrome, na época um grande mistério.
“A imprensa chamava de câncer-gay”, lembra a infectologista Zarifa Khouri. Em 1983, ela era residente no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, e atendeu alguns dos primeiros pacientes com Aids no país.
“O primeiro caso que atendi foi de um rapaz que era cabeleireiro e tinha frequentado saunas gays nos Estados Unidos. Ele deu entrada com diarreia e os professores diagnosticaram febre tifoide, mas não batia porque em adultos a febre tifoide provoca intestino preso”, recorda.
Ninguém sabia o que o homem tinha. Passados alguns dias, surgiram manchas roxas em seu calcanhar e na testa, e a equipe lembrou que as reportagens sobre a tal doença relatavam que os pacientes com frequência desenvolviam um tipo de câncer chamado sarcoma de Kaposi.