BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Ao menos dois ex-militares da FAB (Força Aérea Brasileira) são apontados pela Polícia Federal como suspeitos de integrarem uma organização criminosa responsável pela exploração de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
As informações fazem parte da operação Buruburu, deflagrada nesta quinta (17) pela PF e que mira um esquema de logística e financiamento do garimpo na área de preservação.
Um homem suspeito de ser membro da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) também teria participado do grupo -ele morreu em uma troca de tiros este ano.
Ao todo, os agentes cumprem 11 mandados de prisão preventiva, 18 de busca e apreensão e 19 mandados com medidas cautelares expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Roraima.
Segundo documentos da investigação aos quais a reportagem teve acesso, dois ex-integrantes da FAB (Força Aérea Brasileira) participavam do grupo: Marcos Denes de Santos Souza e Marcio Jose Muller.
O primeiro foi alvo de busca e apreensão e de sequestro de bens, enquanto o segundo, além das duas ações, também teve contra si expedido um pedido de prisão preventiva.
A reportagem ligou para os números de telefones dos dois ex-militares, mas não conseguiu contato. Procurada, a FAB não respondeu.
“Os autores aqui investigados fazem parte de uma organização criminosa e cada um tem seu papel dentro dessa engrenagem criada para extrair ilegalmente minérios da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Fato que, mesmo que cada um tenha seu papel, esse papel é preponderante para que o todo acabe se realizando”, diz o juiz federal Victor Oliveira de Queiroz, de Boa Vista (RR), na decisão que autorizou a operação.
Além das diligências, a Justiça autorizou o bloqueio de cerca de R$ 300 milhões dos investigados. A estimativa dos agentes é que o grupo tenha causado R$ 1,2 bilhão em impactos socioambientais e extraído quase R$ 700 milhões em ouro ilegal da terra indígena.
“A atividade garimpeira feita de forma ilegal resulta na degradação ambiental, com danos irreparáveis à fauna, flora e recursos hídricos da região. Assim, todos os envolvidos no garimpo contribuíram para a degradação ambiental, e devem ser responsabilizados solidariamente”, diz a decisão.
De acordo com a investigação, o grupo era comandado por um empresário que é dono de 10 aeronaves e tem ligação com cooperativas que atuam na mineração e na agropecuária. Junto com sócios, ele tem mais de dez processos na ANM (Agência Nacional de Mineração) para autorização de mineração.
Para os agentes, o empresário usava as liberações da agência para “esquentar” o ouro ilegal retirado da terra indígena.
Segundo a PF, o grupo investigado é dividido em quatro núcleos. O primeiro responsável pelo financiamento, o segundo por esquentar o minério proveniente de áreas irregulares e o terceiro e quarto formado por pilotos e mecânicos, envolvidos no transporte do minério.
A investigação aponta que Muller, um dos ex-militares, era um dos responsáveis pelo núcleo que coordenava a logística aérea do grupo. os documentos apontam que além de pilotar as aeronaves, ele também avisava os garimpeiros sobre operações de fiscalização –que então escondiam os equipamentos antes de a ação acontecer, para depois voltar à atividade quando os agentes iam embora.
O irmão do ex-militar, que também seria integrante do grupo segundo a PF, aparece nas conversas interceptadas relatando o monitoramento das atividades de repressão ao crime organizado. Ambos tiveram pedido de prisão preventiva aceito pela Justiça.
Ainda de acordo com os documentos, o outro ex-militar citado, Santos Souza, era integrante do núcleo de mecânicos do grupo. Ele levava de helicóptero peças peças de reposição para aeronaves no garimpo ilegal na terra yanomami, diz a PF. O suposto integrante do PCC seria um dos líderes desse núcleo.
A investigação mostrou, diz a PF, que as aeronaves utilizadas no garimpo também atuavam em outros crimes, como tráfico de drogas.