FOLHAPRESS – As celebrações dos 200 anos da Independência do Brasil na Bahia neste domingo (2) tiveram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas ruas do centro antigo de Salvador ao lado de apoiadores e uma motociata organizada por bolsonaristas sem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Lula, que participaria de uma cerimônia restrita de celebração da Independência no final da tarde deste domingo, mudou a agenda de última hora e resolveu participar do cortejo popular, que tem um trajeto de cerca de 3 km entre o largo da Lapinha e a Praça da Sé.
A participação na festa é apontada por aliados como uma demonstração de força do petista dois dias depois de Jair Bolsonaro ser condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por crimes eleitorais e ficar inelegível por oito anos.
Neste sábado (1º), em Brasília, Lula fez sua primeira manifestação sobre a condenação de seu adversário nas eleições de 2022. Afirmou que a inelegibilidade de Bolsonaro é um problema da Justiça e que não atingirá seu governo.
A presença de Lula nos festejos de caráter popular na Bahia também serve como contraponto às comemorações oficiais do bicentenário a Independência do Brasil em 7 de setembro de 2022. A celebração foi marcada por tensões a ameaças golpistas do então presidente Bolsonaro.
“De vez em quando me perguntam por que o sucesso da Bahia, o sucesso da Bahia se deve à generosidade do povo baiano”, disse à reportagem. “Esse 2 de julho é a consagração da Bahia como capital histórica do Brasil.”
O presidente ainda falou que o Brasil “recuperou a alegria, recuperou a democracia” e que este tipo de festividade “faz bem para a alma do povo brasileiro e aqui na Bahia em especial”.
Nas ruas de Salvador, Lula percorreu o cortejo na carroceria de uma camionete ao lado da primeira-dama Janja e do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT). Ele participou por cerca de uma hora.
Mais à frente, no chão, vieram o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o senador Jaques Wagner. A ministra Margareth Menezes também percorreu o cortejo em uma camionete.
O presidente não chegou a participar da cerimônia de hasteamento das bandeiras do Brasil e da Bahia ao lado do governador e do prefeito de Salvador Bruno Reis (União Brasil).
Mas se uniu ao cortejo na Soledade, logo depois da Lapinha, ponto inicial do mesmo trajeto feito há 200 anos pelas tropas brasileiras do Exército Pacificador, que retomaram a capital baiana após a expulsão dos portugueses em 2 de julho de 1823.
O trajeto percorrido é o mesmo do ano passado, quando em meio a um clima de tensão eleitoral e preocupações com a seu segurança, o petista caminhou por cerca de um quilômetro.
No mesmo horário, um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro se concentraram na altura do Farol da Barra, de onde vão sair pelas ruas de Salvador na “Motociata da Independência”. Ao contrário do ano passado, Bolsonaro não participa do passeio motociclístico.
A festa dos 200 anos da Independência do Brasil na Bahia começou com uma alvorada de fogos de artifício, que despertou os moradores da região central de Salvador nos primeiros raios de sol.
A população tomou a ruas do centro de Salvador desde as primeiras horas do dia, quando uma multidão já se aglomerava na Lapinha e nas ruas do entorno. Casas e estabelecimentos comerciais foram enfeitadas com as cores das bandeiras do Brasil e da Bahia ao longo de todo o trajeto.
A cerimônia começou por volta das 8h30, com o hasteamento das bandeiras por autoridades e execução do Hino Nacional pela banda de música da Marinha. Em seguida, autoridades colocaram flores no monumento a Pierre Labatut, general que organizou e liderou as tropas brasileiras.
Após a solenidade oficial, os carros com as imagens do caboclo e da cabocla iniciaram o cortejo pelas ruas, sendo saudados como símbolos dos heróis anônimos e da participação popular na guerra.
O desfile foi acompanhado por fanfarras, bandas de percussão, entidades da sociedade civil, sindicatos e grupos culturais. Dentre estes estavam os Caboclos de Itaparica, tradicional grupo que exalta a participam popular em uma das principais batalhas da guerra da Independência.
Os Encourados de Pedrão, grupo que reapresenta os vaqueiros que usaram gibões como armadura e lutaram nas tropas brasileiras, mais uma vez não participaram do cortejo no ano do bicentenário.
Oriundos da cidade de Pedrão, no sertão baiano, Encourados passaram a desfilar em Salvador em 199, traziam seus cavalos para a cidade e faziam a abertura do cortejo. Desde 2012, o grupo deixou de desfilar após ações na Justiça de entidades ligadas à causa animal.
O cortejo do 2 de Julho é o ápice de um calendário cívico que começa no dia 25 em junho, em Cachoeira, município do Recôncavo que resistiu aos ataques de uma canhoneira liderada pelas tropas portuguesas. Conhecida como “cidade heroica”, desde 2007 ela se torna capital da Bahia por um dia do ano.
Em 30 de junho, o Fogo Simbólico da Independência deixa Cachoeira e percorre cidades do recôncavo até chegar em 1º de julho no bairro de Pirajá, em Salvador. Neste ano, um segundo fogo simbólico percorreu cidades ao norte da capital baiana que tiveram reconhecida a participação na guerra.
Data cívica máxima da Bahia, o 2 de Julho celebra a expulsão dos portugueses de Salvador em 1823, quase dez meses depois da Independência do Brasil.
Diferentemente da maioria dos estados, onde a Independência aconteceu sem luta armada, na Bahia ela foi precedida por uma guerra entre tropas aliadas a Portugal e tropas formadas por brasileiros, caso das batalhas de Pirajá, Itaparica e Funil.
A expulsão dos portugueses da Bahia, há 200 anos, se consolidou como principal marco da construção da unidade nacional após a Independência.