Os focos de queimadas mais que dobraram na Bahia em um período de cinco anos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os incêndios saíram de 4.956 casos em 2018 para 11.917 em 2023, o que representa um aumento de 140%. Neste ano, a organização já contabilizou 3.502 registros.
Em 2018, a Bahia ocupava a nona posição entre todos os estados brasileiros. Já em 2023, o estado chegou a sexta colocação, atrás apenas de Pará (41.715), Mato Grosso (21.723), Maranhão (21.113), Amazonas (19.601) e Piauí (12.957).
Para a meteorologista Andrea Ramos, o período analisado, em especial o ano de 2023, registrou um aumento nos focos de queimadas por conta de extremos climáticos. “São aquelas situações que nós temos, por exemplo, ondas de calor, ondas de frio, queimadas, chuvas que ocorrem num período que se espera num mês, ocorrem em um dia. Estamos vivendo essa fase de extremos e de forma cada vez mais intensa”, explica.
Ramos aponta que as queimadas também tem relação com as secas e o aquecimento global. A meteorologista indica uma causalidade com o evento climático chamado El Niño. “O fenômeno, que se desenvolveu desde o ano passado, já diminuiu bastante as chuvas. Nesse ano, o verão de 2023 para 2024, não foi tão chuvoso, porque o El Niño finalizou em junho, mas o pico dele foi novembro, dezembro e janeiro, justamente os meses que são de chuvas”. Ela ainda acrescenta que, de acordo a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), 2023 foi ano mais quente já registrado pela entidade, o que aumenta a probabilidade de incêndios.
A propagação do fogo é ainda mais impactante no oeste do estado, onde, ao longo de todo o período analisado, houve pelo menos nove entre as dez cidades mais atingidas.
Em 2018, dez municípios da região aparecem entre os mais afetados, sendo eles: Formosa do Rio Preto, Barra, Pilão Arcado, São Desidério, Cotegipe, Barreiras, Correntina, Santa Rita de Cássia, Jaborandi e Buritirama. Em 2023, também houve dez cidades da região, mas Buritirama, Jaborandi e Cotegipe deram lugar à Cocos, Campo Alegre de Lourdes e Mansidão.
Neste ano, até o momento, nove das dez localidades mais atingidas estão no oeste, sendo eles: São Desidério, Formosa do Rio Preto, Cocos, Santa Rita de Cássia, Jaborandi, Correntina, Barreiras, Riachão das Neves e Muquém do São Francisco.
Procurado, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) relatou que os dados podem ser superestimados. Segundo a entidade, o Inpe obtém os seus dados via satélite, de forma que “um único incêndio em uma área extensa pode ser registrado como vários focos de calor”.
Cerrado
O oeste do estado, onde ocorrem a maioria dos registros de focos de queimadas, é marcado pelo cerrado. O meteorologista do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) Aldirio Almeida explica que o bioma é “caracterizado por uma vegetação variada, que inclui gramíneas, arbustos e árvores de pequeno a médio porte, todos adaptados a resistir a longos períodos de seca”.
Apesar da adaptação ao clima, Almeida explica que, em períodos de baixa umidade, o cerrado se torna altamente suscetível a queimadas. “A vegetação se adapta ao fogo, permitindo que se regenere rapidamente. No entanto, a vegetação que se acumula nos períodos de baixa umidade, se torna altamente inflamável, criando condições propícias para incêndios de grande escala”, informa.
Correio24h – Queimadas em Morro do Chapéu Crédito: Divulgação