Segundo a revisão publicada no Lancet, conduzida por pesquisadores de vários países, 46,2% dos adultos e 17,9% dos adolescentes no mundo participaram de algum tipo de jogo de aposta no ano anterior, sendo que 10,3% dos adolescentes jogaram online. Estima-se que esses jogos cheguem a 15,8% dos adultos e a um em cada quatro (26,4%) adolescentes que jogam na internet.
A análise também aponta que 8,9% adultos e 16,3% adolescentes fazem apostas esportivas. Esses números equivalem a 448,7 milhões de adultos jogando. Desses, 80 milhões apresentam problemas.
Por que as bets viciam?
Esses jogos são projetados para serem rápidos e intensos, provocando uma experiência de satisfação passageira. Eles ativam o sistema de recompensa do cérebro, que está ligado à liberação de dopamina, um neurotransmissor que gera sensações de prazer. “Quando uma pessoa aposta e ganha, essa liberação de dopamina gera uma sensação de prazer e recompensa que incentiva a repetir o comportamento”, explica Kanomata. “Mas mesmo em situações de perda, o cérebro mantém a expectativa de que pode ganhar no próximo jogo. A mecânica por trás acaba por incentivar o engajamento repetido e contínuo.”
Além disso, o mecanismo faz com que os jogadores tenham a ilusão de controle e acreditem poder influenciar o resultado. Segundo o psiquiatra, as situações em que a pessoa “quase ganha” geram a expectativa de que uma vitória está próxima, incentivando-a a continuar. Trata-se de um sistema de reforço intermitente, ou seja, recompensas que ocorrem em intervalos aleatórios e imprevisíveis. “Esse tipo de reforço é mais eficaz em promover o comportamento repetitivo, pois o jogador nunca sabe quando vai ganhar e, assim, é impulsionado a continuar tentando para buscar essa recompensa incerta”, diz.
Por fim, o jogo também pode ser uma válvula de escape para estresse, ansiedade ou outros problemas emocionais, provocando um alívio imediato para sentimentos e sensações ruins. Por isso, o jogar patológico pode estar associado a outros problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, ideação suicida e transtornos relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas.
“O vício em jogos envolve, assim como na dependência química, um conjunto de fatores psicológicos, biológicos e sociais que contribuem para a dificuldade de alguns indivíduos de controlarem o impulso de jogar, mesmo frente a perdas financeiras, emocionais e sociais”, explica o médico.
Nesse sentido, o artigo do Lancet traz várias recomendações, como a necessidade de monitorar os danos; desenvolver políticas públicas focadas em proteger saúde e bem-estar, com maior regulamentação dos jogos em todos os países e formas de reduzir a exposição e a disponibilidade em geral; além de mais acesso ao tratamento e a mecanismos de proteção para crianças e adolescentes.