domingo, novembro 24, 2024

No dia Mundial da Água, ambientalista alerta sobre os riscos da extinção de lagoas e nascentes de Feira de Santana

Nesta sexta-feira (22) é celebrado o Dia Mundial da Água. Além da data que destaca a importância da conscientização e preservação deste recurso natural, ela também faz lembrar que sem água, não há vida humana.

Apesar de o planeta estar repleto de água, estima-se que apenas 0,77% esteja disponível para o consumo humano. A maior quantidade de água líquida atualmente está concentrada no Brasil.

Em homenagem ao dia criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ampliar as discussões acerca do tema desde 1992, o Acorda Cidade conversou com o ambientalista e presidente da ONG Feira Viva, João Dias.

A princípio, João Dias evidenciou a importância da água para a sobrevivência.

Ambientalista
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“A água é o líquido mais precioso do planeta. Alguns países têm muita água, como é o caso do Canadá que é o detentor da maior quantidade de água do planeta. Mas, a água do Canadá está congelada. Quem tem hoje no mundo a maior quantidade de água disponível é o Brasil, por isso, o Brasil é olhado no mundo todo como sendo um tesouro, embora não seja falado publicamente. Nós, que somos do Brasil, precisamos também ser conscientizados sobre a necessidade de cuidar da água. Hoje o Brasil e os Estados Unidos têm a maior pegada hídrica do mundo. O que quer dizer isso? Somos nós, juntamente com os americanos, os norte-americanos que gastamos mais água. Por isso, a gente precisa diminuir o gasto e também reaproveitar a água já usada que é a água cinza”, contou.

A poluição derivada de países pobres é um dos fatores que mais contribuem para a contaminação da água, o que a torna imprópria para o consumo humano. Para o ambientalista, a coleta de esgoto também é uma questão preocupante e recorrente na contaminação de nascentes e rios, principais fontes de água potável nos municípios.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade | Parque da Lagoa

“A pobreza é classificada pela ONU como uma das questões que influenciam bastante na contaminação e poluição da água. Então, nós temos que cuidar da questão social para que juntos a gente também possa cuidar da questão ambiental. Além da pobreza, temos as mudanças climáticas e o aquecimento global. Já o terceiro problema apontado pela ONU é a questão da coleta e tratamento de esgoto. O Brasil, por exemplo, despeja quase todo o seu esgoto dentro de nossos rios, lagoas e no oceano. Eu sou membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu e Jacuípe que contempla 86 municípios e todos os 86 municípios, incluindo Feira de Santana jogam parcialmente ou totalmente o esgoto dentro de nossos rios e isso é algo inaceitável. Embora os políticos não falem, mas toda vez que você ouve uma pessoa dizendo que está buscando recursos para a saúde, se esse recurso não envolver o meio ambiente, principalmente o cuidado com a água significa que parte do recurso da saúde vai ser em vão, porque a saúde do ser humano perpassa por uma água de boa qualidade”, lamentou

Feira de Santana

Atualmente, Feira de Santana tem 60 lagoas, além de rios que cortam o município e nascentes. Segundo João Dias, é indispensável o cuidado, principalmente por parte da população e das autoridades públicas para estas fontes de recursos naturais que o município tem não se esgotem.

“Nós aqui de Feira de Santana precisamos cuidar dos rios e das lagoas, além das nascentes, já que em vários lugares do mundo as nascentes são requalificadas para que as pessoas mais pobres possam ter acesso a água. No caso de Feira de Santana, em que identifiquei mais de cinquenta nascentes, só aqui na sede, como é o caso daquela da Ayrton Senna, da Lagoa Grande, do Parque Getúlio Vargas, do São João do Cazumbá, as pessoas pegam água no chão. Então, na Semana Mundial da Água temos que chamar atenção da sociedade para os cuidados e das autoridades para trazer investimentos”, frisou.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade | Lagoa do Subaé

João Dias aproveitou para chamar atenção da gestão municipal que não possui uma assistência complementar na infraestrutura hídrica. De acordo com ele, a falta de cuidados com as lagoas pode desencadear vários problemas e doenças, à exemplo da dengue, que este ano já vitimou uma pessoa no município.

“Aproveito para chamar a atenção de outra questão. Feira de Santana criou há pouco tempo duas secretarias e às vezes as secretarias são criadas e a população não chama atenção, mas nós precisamos em Feira de uma secretaria de infraestrutura hídrica, porque temos 10 rios, temos vários riachos e temos 22 lagoas dentro da zona urbana. Uma cidade assim, tem que ter uma secretaria para cuidar só dos corpos hídricos. Isso é uma necessidade urgente. Nós esperamos que o próximo gestor da cidade, visto que está no ano eleitoral, crie uma secretaria para cuidar de nossas lagoas, lagoas essas que ficaram abandonadas e isso trouxe problemas sérios para a cidade. Além disso, já morreram pessoas na cidade de dengue e a questão da dengue tem a ver com a falta de cuidado das lagoas, porque um sapo cururu come em média mil insetos por dia, inclusive o mosquito da dengue. Se matamos 60 lagoas, nós matamos milhares de sapos e hoje temos a consequência da falta de cuidado com o meio ambiente”, alertou.

Papel da população

Para evitar a escassez e a poluição da água principalmente em Feira de Santana, é dever de cada cidadão reduzir o consumo desenfreado, além de cuidar do meio ambiente. Como João Dias enfatizou, pequenas ações no cotidiano da população já fazem a diferença.

“No caso de Feira de Santana todos nós que compomos a população da cidade, tanto fixa quanto flutuante temos que ter um cuidado especial com os riachos, com as nascentes e com as lagoas. O cuidado é simples, não colocar lixo na rua fora do horário para que não chova e leve para os corpos hídricos. De jeito nenhum construir uma casa e não construir uma fossa, ou se a rua tiver um local de captação, de rede de esgoto, a gente tem que colocar parte hidráulica ligada na rede de esgoto. Uma coisa que a população de Feira fez muito e que não pode fazer de jeito nenhum é invadir a beira das lagoas, a beira dos riachos e a beira de nossos rios, porque pode acontecer o que aconteceu ultimamente, que teve uma chuva de pouco mais de 160 milímetros e tivemos muitos problemas na cidade. Em Muquém do São Francisco por exemplo, em dois dias choveu 300 milímetros, se fosse em Feira, teriam morrido pessoas no Conjunto Feira X, na Rua Nova e na Baraúnas porque as pessoas infelizmente construíram perto dos corpos hídricos”.

O ambientalista finalizou ainda destacando as condições das lagoas do município nos dias atuais. Além, de salientar o dever de cada indivíduo em fazer a sua parte na preservação da água.

“A situação da maioria das lagoas é a deplorável. Tem a lagoa João Pequeno, lagoa Juca Campello as duas primeiras do Santo Antônio dos Prazeres e a lagoa da Pedreira na Conceição que estão pedindo mais que socorro. A lagoa do Chico Maia na Mangabeira está na UTI, a lagoa do Pindoba no Novo Horizonte também está, além de outras que tem o lixo jogado pela população e esgoto também. Infelizmente, a sociedade deveria ajudar e o poder público tem que fiscalizar e realizar a educação ambiental que eles também não têm feito a sua parte. A mensagem que deixo é que tanto as autoridades quanto as pessoas comuns da sociedade civil passem a se conscientizar e tomar iniciativas para proteger a água porque a substância mais importante do planeta é a água. 70% do corpo humano é a água. Mais de 70% do planeta é a água, então nós não vivemos sem água. Nós não podemos ser omissos”, finalizou.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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