O júri popular acontecerá na próxima segunda-feira (15), dia seguinte ao dia das mães, na cidade de Ipirá.
Desde agosto de 2021, Túlio de Jesus Silva, 25 anos, está preso acusado por homicídio qualificado e por roubo ocorridos em um bar na cidade de Pintadas, onde mora com a família.
Em um processo cheio de contradições, sem prisão em flagrante e com reconhecimento que só se descobriu irregular quando as testemunhas foram ouvidas durante as audiências, a mãe e a família buscam provar que o rapaz é inocente. “Não é porque eu estou falando como mãe, mas basta ler o processo para ver”, garante Nilza, mãe de Túlio.
Além de Túlio, Nilza tem outros dois filhos, Bruno, 24 anos, portador de autismo e Odair, portador de paralisia cerebral, falecido em agosto de 2022, aproximadamente um ano depois da prisão de Túlio. Nesse período Nilza ainda perdeu o pai, de quem também cuidava.
Ser mãe de dois filhos portadores de necessidades especiais já era uma batalha árdua, mas Nilza relata que com a ajuda de Túlio conseguia cuidar bem dos outros dois filhos. Relata ainda que, Túlio trabalhou fora por quase dois anos, mas precisou retornar à Pintadas, justamente para ajudá-la, já que o cuidado com os dois filhos, exigia muito dela fisicamente.
Atualmente precisa se desdobrar para dar a atenção necessária ao seu filho Bruno e a Túlio que encontra-se preso em Feira de Santana.
Nilza afirma que mesmo com muita dificuldade sempre está presente nas visitas para prestar o apoio necessário a Túlio. “Vivo muito triste e angustiada, mas tenho muita fé que tudo isso vai acabar. Meu filho não fez nada para estar passando por isso. Ele estava em casa comigo e os irmãos. Graças a Deus muitas pessoas nos ajudam. Dr. Caio e Dr. Henrique ‘mesmo’ são anjos na vida de Túlio.
Nilza se refere aos advogados do escritório Machado e Guerra, situado em Juazeiro, que atuam no caso de forma ‘pro bono’, ou seja, com prestação de serviço jurídico gratuito e voluntário, por compreender que Tulio vive em situação de vulnerabilidade e foi acusado de forma injusta.
O crime
Em 17 de agosto de 2021, uma mulher, gerente do bar Beira Rio, que também funcionava como um bordel, foi morta a tiros por dois homens, que teriam levado seu celular e pertences de um rapaz que estava do lado de fora do local.
O bar está localizado numa área rural, distante 1,7 quilômetro da casa de Túlio. Naquele dia, Nilza conta que ele ficou a tarde toda na residência e saiu à noite de bicicleta para encontrar a namorada na Praça Anacleto Gonçalves, retornando por volta de 20h. “Depois disso, ele não saiu mais de casa”, afirma.
A companheira dele confirmou em audiência que eles se encontraram por volta das 19h30, permaneceram na praça por cerca de 20 minutos e comeram um lanche. Ele retornou para casa e ela foi na casa de uma amiga antes de encontrá-lo novamente já na residência de Nilza.
Tulio saiu de casa vestindo uma camiseta azul escura, shorts jeans e boné vermelho. A família conseguiu imagens da câmera de segurança de uma loja na Avenida Osório Batista em que ele aparece de bicicleta às 19h26 e depois às 19h50, como se tivesse indo a um local e retornando em seguida. Uma conta no Instagram foi aberta pedindo a liberdade do rapaz. @pl.tulio.
No dia seguinte, por volta das 18h, Nilza conta que todos ficaram surpresos quando a polícia apareceu na sua porta. “Em nenhum momento disseram porquê estavam levando ele, que ele só ia prestar esclarecimentos, não disseram por que levaram ele algemado”, lembra a mãe.
Uma das testemunhas descreveu que o autor dos disparos era de “raça branca, com cabelo cacheado na altura do ombro, cabelo meio branco ou grisalho” e que não fez reconhecimento de Tulio na delegacia, apesar de constar um auto de reconhecimento apontando que ela o reconheceu. “Só me deram o papel e eu assinei”, disse.
Outras duas garotas de programa que estavam no local também relataram em audiência que não viram os rostos dos criminosos e não conheciam ninguém da cidade porque estavam trabalhando há poucos dias no local e que estavam bebendo quando a dupla chegou armada. Uma delas também mencionou características de um homem branco com cabelo na altura do ombro, o que diverge do auto de reconhecimento da delegacia.
As fotos que teriam sido mostradas às testemunhas antes da prisão de Tulio não constam no processo, e nas audiências elas dizem que eram imagens de redes sociais e que policiais mostraram fotos no celular também. Não dizem com clareza se o reconhecimento aconteceu com todas as testemunhas juntas ou separadas.
Outra testemunha que presenciou os fatos não chegou a ser ouvida na delegacia, apenas em audiência após ser arrolado como testemunha pela Defensoria, atestando que Tulio não foi um dos assaltantes porque ele o conhece e vive há oito anos em Pintadas.
Outra testemunha do caso relatou, que foi agredida e coagida a apontar o jovem como o autor de um assassinato. Disse que foi ameaçado na delegacia da cidade, onde foi ouvido, caso não indicasse o nome de alguém como responsável pelo crime. Relatou que tomou um tapa no rosto e que se ele não indicasse o nome de Tulio seria preso. Além disso, confirmou que Tulio estava sozinho numa sala para o reconhecimento pessoal e que foi pressionado na delegacia a manter a versão de acusação na audiência.
Outra também alega que o crime aconteceu por volta das 20h10 já que estava com o celular na mão e que Tulio não foi o responsável. No dia do ocorrido, ele conversava com um rapaz na porta de casa quando viu os assassinos chegarem armados. Relatou que, na ocasião, foi procurada por policiais dentro de casa que mostraram a foto de Tulio e perguntaram se ele o reconhecia como autor do crime. Em depoimento, ele disse que não o reconhecia como autor dos fatos porque trabalhou por cinco anos vendendo picolé nas ruas da cidade e que conhecia o jovem e a sua família.
Vale ressaltar que duas das testemunhas ouvidas declararam em juízo que o autor do crime era branco, com cabelo cacheado na altura do ombro e cabelo meio branco ou grisalho, características que diferem da fisionomia do jovem.
Em carta, escrita em junho do ano passado, Tulio relatou as angústias do que tem passado, as expectativas para o futuro e agradeceu ao apoio dos familiares, conhecidos e desconhecidos que têm se mobilizado no seu caso. “Às vezes não consigo entender o motivo de tanta dificuldade, mas confio em Deus que tudo vai dar certo e o que sinto em minhas orações se tornará realidade. Fé, apenas isso importa agora”, escreveu o jovem.
Para os familiares, a esperança é de que Tulio saia pela porta da frente em liberdade. “Eles não estão simplesmente prendendo um cara, eles estão acabando com a reputação de uma pessoa. Isso impacta a família, impacta todo mundo […] A família espera que essa audiência de júri aconteça o mais rápido possível, que eles possam ver a moeda pelos dois lados e verdadeiramente e, se houver um culpado, que esse culpado seja encontrado e dado o dever que merece”, completa Genivaldo Manoel, tio de Túlio.
As informações e imagens são da Dra Vitória Abreu. OAB/BA 43.671.