(FOLHAPRESS) – Quatro fósseis vão voltar para o Brasil. São dois exemplares de peixe, um de réptil e outro de uma planta. Todos têm origem brasileira, mas em algum momento foram parar em um museu Hannover, na Alemanha.
O acordo para a repatriação dos fósseis foi assinado no último dia 13 em Berlim. Detalhes como a data em que as peças serão devolvidas ou quem arcará com os gastos ainda precisam ser definidos, diz o secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social (SEDES) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Inácio Arruda.
“Nós estamos já tratando entre a embaixada brasileira e a embaixada alemã a devolução desses fósseis”, diz ele, acrescentando que o ministério também conversa com quatro universidades alemãs para o retorno de outros fósseis ao país, alguns deles com “grande valor científico”.
Entre os fósseis envolvidos no acordo já selado estão os de dois peixes: Vinctifer comptoni, que viveu há cerca de 115 milhões de anos na Bacia do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí; e Notelops, que habitava os mares rasos do Nordeste há 110 milhões de anos.
Outro é o do réptil aquático Mesosaurus tenuidens ou Stereosternum tumidum, habitante da Bacia do Paraná há 280 milhões de anos. E, p or último, há o de um tronco de uma planta gimnosperma.
A professora de paleontologia Aline Ghilardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), questionou a escolha dos fósseis repatriados por não serem holótipos, característica fundamental para a descrição formal das espécies.
Na avaliação dela, qualquer devolução de fósseis tem importância, mas os quatro exemplares são comuns. Já os holótipos, segundo ela, atraem cientistas de todo mundo para estudá-los e movimentam a economia.
A docente diz se preocupar que o acordo envolvendo os quatro fósseis tenha como objetivo um apaziguamento com o Brasil e a comunidade internacional, sem que a Alemanha precise se comprometer com o envio do material mais relevante.
Ainda segundo Ghilardi, o Brasil deve ficar atento com promessas de instituições estrangeiras para não trocar o que ela define como migalhas pelo que “por direito deveria ser restituído”.
Um dos fósseis holótipos seria o dinossauro Irritator, hoje na Alemanha. A professora faz parte de um movimento que pede o retorno à Chapada do Araripe dos vestígios da espécie Irritator challengeri, uma das “mais importantes do hemisfério sul do planeta”.
Uma petição online reuniu neste ano mais de 30 mil assinaturas para a restituição da peça, que está exposta no Museu Estadual de História Natural de Stuttgart. Aline participou de uma iniciativa para escrever uma carta à ministra da Ciência, Pesquisa e Arte do estado de Baden-Württemberg, Petra Olschowsk, pedindo a repatriação do fóssil em 2023. Até o momento, porém, não houve resposta.
Enquanto a professora diz que faltam avanços na repatriação dos holótipos, o secretário pondera que o movimento de retorno de fósseis é recente, mas exitoso.
Arruda cita a devolução dos vestígios de dinossauro Ubirajara jubatus em 2023, que contou com mobilização de paleontólogos e pressão da diplomacia brasileira.
O Museu de História Natural de Karlsruhe, que detinha o dinossauro, recusava-se a devolvê-lo, até que autoridades da região de Baden-Württemberg determinaram em julho de 2022 o retorno do exemplar ao Brasil.
A Alemanha conta com parte significativa dos fósseis que saíram do Brasil de forma irregular, segundo uma pesquisa publicada em 2022.
Perguntando sobre a disposição de instituições alemãs em cooperar com a repatriação de fósseis ao Brasil, Arruda afirmou que o mais importante “é a nossa disposição”. Segundo ele, o movimento de repatriação une a comunidade acadêmica, o governo e o Itamaraty.
De acordo com Arruda, o Brasil tem feito tratativas com a Inglaterra e o Japão para a devolução de fósseis holótipos. Apesar de não confirmar se há um encaminhamento concreto para o retorno do Irritator, o secretário afirma que há um indicativo de que ele será devolvido e que a atividade da embaixada brasileira na Alemanha e do Itamaraty em torno disso tem sido intensa, o que inclui discussões com ministérios alemães.
O secretário afirmou que o movimento brasileiro para repatriação é sólido, mas, “quanto mais exposto publicamente está o fóssil, mais debate ele gera, e muitas vezes se cria uma espécie de resistência local”. Para Arruda, a Alemanha tem consciência de que o fóssil pertence ao Brasil.
VEJA OUTRAS REPATRIAÇÕES RECENTES DE FÓSSEIS BRASILEIROS
Abril de 2025: 25 peças isoladas de rocha calcário com insetos que saíram da Bacia do Araripe de 120 milhões de anos voltaram ao Brasil Os fósseis estavam sendo vendidas ilegalmente no exterior por meio de um site na internet.
Junho de 2023: após a campanha online #UbirajaraBelongsToBR, o dinossauro Ubirajara jubatus voltou ao Brasil. A peça saiu de forma irregular do Brasil e passou três décadas na Alemanha.
Maio de 2022: Autoridades alfandegárias francesas devolveram ao Brasil quase mil fósseis retirados da Bacia do Araripe datados do período Cretáceo (entre 144 milhões a 65 milhões de anos atrás).